Ja tinha esquecido tanta coisa ruim nos ultimos dois meses. Agora só queria sossego, descanso... Não era sem tempo ouvir músicas que a trouxessem à cabeça. Questões de amor não podem ser relatadas tão brevemente. Deparou-se, numa dessas, com a música dos dois. Já tinha ouvido tantas vezes, mas agora parecia ser a primeira vez; a ultima nunca se sabe quando é. Apenas chega e acontece.
Tava um vento tão forte, quando subiu a rua lateral, que o cheiro da maresia chegava antes de ver o mar. Aquele barulhão das ondas, que à noite causa espanto a pescador antigo, é mais quem um calmante natural. Ensurdece e faz esquecer. Continuou caminhando. Havia um monte de areia que, possivelmente, fora um desses castelos. Já estava ao chão, mesmo. E não era coincidência demais. Talvez fosse.
Quando se deu conta, já tinha subido numa dessas pedras de contenção de ondas, e estava prestes a sentar. Por que não? Fazia sombra no local, e o vento continuava forte. De logo, lembrou mais coisas sobre aquela ingrata, e caíram as lágrimas. A garganta já nem doía mais, daquele nó que sufocava e espetava tudo goela abaixo. Só as lágrimas escorriam e o gosto de sal na boca, que , com o tempo, o mesmo vento secava.
Era o fim, relamente. Mas sempre que tentava esquecer, acabava lembrando. Já tinha pensado em telefonar pra ela, mas lembrou-se da ultima conversa, quase monólogo:
-Oi, tudo bem?
-Sim.
-Sinto saudades suas todos os dias. Só queria saber se estava bem, se não precisava de algo.
- Estou
- É! Era isso. Qualquer coisa...
Antes de terminar de dizer algo mais, viu que ela tinha desligado. Quis acreditar que a ligação caiu. Assim como tantas vezes, acreditou no contraditório para não perceber o óbvio. Era melhor desse jeito.
Deixou a cabeça pender um pouco para o lado, e ... Já tinha tido a sensação daquele lugar. Que nostalgia: já estiveram alí, antes, olhando o horizonte. Só sabia que não seria fácil sem ela. Estava a ponto de se entregar, mas isso era bobagem. Precisava seguir, cuidar da casa, da roupa, dos planos. Precisava cuidar de viver. Ser feliz, ao menos.
Onde será que estava a essa hora? Estava alí com ele, guardada na mente, no coração. Fisicamente não, mas onde?! Lembrou dos planos da casa nova, da viagem de férias em serembro. Iam até visitar a família que não viam há algum tempo. Mas, só planos. O tempo errou a história dos dois, e eles não estavam mais juntos. Embora tivessem feito tudo certo. Só queria ficar bem. Nada mais.
O sol estava começando a se por quando levantou-se para ir embora. E daqueles lagos feitos na beira da praia, viu um casal de cavalos-marinhos passeando de um lado à outro. Como esquecer, se lembrava dela em cada detalhe?
Chegou em casa mais aliviado, já não chorava. A barba? Tinha se livrado dela mais cedo. Estava descansado, só precisava seguir. Depois de as ondas terem o acertado, o vento estava levando tudo de ruim embora. Era isso. Ele estava só, mas em boa companhia. Não por falta de alguém para amar. Só por falta dela, nada mais