segunda-feira, 3 de novembro de 2014

"Sei o que devo defender"

        Os sociólogos dizem algo do tipo: mesmo que você ofereça vários caminhos aos indivíduos, eles sempre tendem a escolher aqueles em que se sentem enraizados. É uma das maneiras mais simples de se explicar a cultura de determinados povos e as escolhas que fazem por certas coisas; sempre foi assim. Heródoto, grande historiador grego que viveu no século IV a. C. achava estranhos que o povo lício vivesse em uma sociedade matrilinear. Ele acha estranho esse costume, porque tomou como referência a sociedade em que vivia(patrilinear). Sobre este assunto, ele afirmava:

       
                          "Se oferecêssemos aos homens a escolha de todos os costumes do mundo, aqueles que lhes parecesse melhor, eles examinariam a totalidade e acabariam preferindo os seu próprios costumes, tão convencidos estão de que estes são melhores do que todos os outros"









Fiquei pensando sobre isso, e surgiu-me uma pergunta. Um dilema, na verdade: se a raça humana é uma só, porque os homens são tão diferente? Essa não é uma pergunta só minha. Analisando bem, existe há séculos. Comprove-se, então, quando Confúcio disse: "A natureza do homem é a mesma, são seus hábitos que os mantém separados". Logo, cabe ressaltar, ao longo da história deparamo-nos com muitas tentativas de explicar as diferenças de comportamento humano.

        Trazendo a questão para o nosso país, deixo dois exemplos:

1 -  No interior do Nordeste brasileiro, a gravidez era considerada uma enfermidade, e o ato de parir é denominado "descansar" - (Fulana descansou);

2 -  No sul do país, a palavra descansar é usada para se referir à morte de uma pessoa - (Fulano descansou).

A conclusão que se tem, então, é que o comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, em um processo chamado endoculturação. Assim, segundo Tylor, cultura é todo comportamento aprendido, que independe de transmissão genética. Laraia, antropólogo mineiro, afirma que "um menino e uma menina agem diferente não em função de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada".
Geograficamente falando, alguns antropólogos consideravam que as diferenças de ambiente físico condicionam a diversidade cultural. Essa teoria, entretanto, tem sido derrubada; existe apenas uma limitação geográfica sobre os fatores culturais. Ademais, é comum existir uma grande diversidade cultural em um mesmo ambiente físico. No Brasil não seria diferente.

Dito tudo isto, vou contar-lhes um fato que eu, particularmente, tive bastante vergonha. Na sexta-feira à noite, ainda "dia das bruxas", fiquei sabendo de um movimento que pedia o impeachment da presidente reeleita - democraticamente- uma semana antes.

       Quem vê assim, até pensa que eu sou petista ou membro de algum partido aliado. Não! Aí estão os amigos que me acompanham no Facebook para provar que todos os dias eu postava "Não Vote No PT". Era até por uma questão pessoal, mesmo.

        Mas, para contrariar o óbvio, fui "obrigado", no segundo turno, a apertar o 13. Não sou fã da Dilma, menos ainda do Aécio.

        Voltando ao assunto do movimento, nem me ocorreu participar dele. Mesmo que não tenha um procedimento simples - como pensam algumas pessoas- 5 milhões de assinaturas e umas 100 mil placas de "Fora Dilma" não são o suficiente para tirar a dentuça do Planalto. E, embora fosse, iria assumir o Michel... o Temer. Ele, mais que ninguém, faz jus ao nome: Temer. Novamente, prefiro a Dilma.

        No sábado sai para jantar com uns amigos, e o comentário sobre a manifestação era uno: pediam uma intervenção militar. Como assim, Brasil? Intervenção Militar? Fiquei indignado: Como pode um país que, de 1964 ate 1985, sofreu na mãos dos militares, pedir a volta dos mesmo?

        E o "clamor" não acabou por aí, não. No Facebook é só o que se fala. Esse tipo de imbecilidade, com toda certeza, parte de quem não dá o menor valor à democracia; de quem não respeita a memória e a dor dos que, por conta desse regime ditatorial, arcaram as custas com a própria vida, pois não havia espaço para a liberdade, o respeito, o diálogo, dentre tantos outros.

        Clamar por uma intervenção militar, nos dias de hoje, é querer repetir a história não como um erro, mas como tragédia. É convidar o sofrimento, a tristeza, a falta de liberdade, o desrespeito e, sobretudo, a imposição de ideias, para cear conosco. É a maneira mais sucinta de mostrar o seu ódio contra o Brasil e a sua gente. É mais que ausência de conhecimento, é burrice. É a falta de coragem para abrir "qualquer" livro de história e fazer uma mera comparação entre a ditadura militar e a democracia em que vivemos.

        Mais assombroso, digo eu, foi pela quantidade de juristas que vi apoiarem o movimento. Assim o fazem com uma interpretação burra da nossa Magna Carta, em seu Título V, que trata "Da Defesa do Estado e das Instituições DEMOCRÁTICAS". "Intervenção militar não é Golpe Militar..." - Diz o asno. Não é mesmo, é apenas o primeiro passo. Só quem não conhece o que aconteceu em 1964 para querer tamanha burrice.

        Como citei no início, se o comportamento de um indivíduo depende de um aprendizado, esses imbecis(que querem intervenção militar) não aprenderam nada. Nunca estão satisfeitos: foram oferecidos vários caminhos democráticos, e é grandemente penoso que ainda tenha gente que se sinta enraizada em uma época triste e vergonhosa de nossa história.

        No mundo inteiro as pessoas vão às ruas pedir democracia. No Brasil, imbecis pedem a volta do período mais sombrio a que temos lembrança. Realmente, é caso de intervenção... psiquiátrica.

Eternamente, viva o nosso Estado Democrático de Direito.

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